cala a boca, cara!

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

SETTING OUT PRINCIPLES ou Leia Minhas Iniciais....

SETTING OUT PRINCIPLES

SETTING OUT PRINCIPLES




IF  NO SIGNS AT SIGHT, HOW TO BEGIN
Iniciar como, se não há indícios
IF THE HORIZON BECOMES NARROW, WHAT TO SEE
Ver o quê, se o horizonte se estreita  
IF THE BOAT SINKS, HOW TO ADMIRE
Admirar como, se o barco naufraga.
IF THE RIVER IS NEVER THE SAME, WHAT TO SAIL
Navegar o quê, se o rio nunca é o mesmo.         
IF THE UNIVERSE LAYS ITSELF HALLOW, HOW TO DROWN
Afundar como, se o universo se faz raso.

IF THE OTHER BECAME OFF , WHAT TO LOOK FOR
Procurar o quê, se o outro fez-se ao largo.    
IF OUR WIDTH IS SMALLNESS, HOW TO FIND
Achar como, se nossa largura é pequenez.   
IF THE GATES LOCK US, WHAT TO REDEFINE
Redefinir o quê, se as grades nos tolhem.
IF ABYSSES ARE OUR BORDER LINE, HOW TO UNDERSTAND
Entender como, se abismos limitam. 

IF THE BORDER BORES, WHAT TO DEFEND
Defender o quê, se o limite enfada.    
IF IN THE HORIZON  NOTHING, HOW TO BE BORED
Enfadar-se como, se no horizonte:  nada.

IF THE CURTAINS FALL WHAT TO MAINTAIN
Manter o quê, se as cortinas se cerram.
IF SOUND AND FURY TURN  US ROUGH, HOW TO WRITE
Escrever como, se o som  e a fúria nos encapelam


IF THE TRUTH WENT BACK TO EARLY AGES, WHAT TO COMMENT
Comentar o quê, se a verdade ficou infante.  
IF CHILDHOOD BECAME FAR AWAY, HOW TO BECOME NOBLE
Enobrecer como, se a infância ficou distante
IF THE ARMS ARE ALREADY CROSSED, WHAT CRADLE TO ROCK
Ninar o quê, se os braços já cruzamos
IF THE WORLD BURST INTO TEARS, HOW TO RESIST
Sustentar como, se  o mundo desceu em pranto                   
IF THE MOON FILLED WITH SILVER, HOW TO HOWL
Uivar o quê, se a lua se encheu de prata.
IF EVERY EXERCISE COMES TO AN END, HOW TO REREAD,
Reler como, se todo exercício é findo
IF WE DON’T KNOW WHERE TO, WHERE TO WALK
Andar o quê, se não se sabe para onde         
IF THE EMPIRE BECOMES STORM, HOW TO REIGN
Reinar como,se o império se faz tempestade 

IF THE MOUTH IS ALREADY MUTE, WHAT TO SHUT UP
Calar o quê, se a boca já está muda   
IF PAIN DOES NOT CURE FOR NOT EVEN A DAY, HOW TO ANESTHETIZE
Anestesiar como, se a dor não dura um dia   
IF WE BREAK DOWN INTO OUR SPEECH, WHAT TO SING
Cantar o quê, se a voz logo se engasga
IF POLITENESS BECOMES PROSTITUTE, HOW TO COMPLIMENT
Elogiar como, se a polidez se fez polaca       
IF DESTINY IS KNOWN, WHAT TO FEAR
Temer o quê, se o destino é conhecido         
IF ALL NEWSPAPERS TURN TO WRAPPING, HOW TO HELP?
Ajudar como, se todo jornal só vira embrulho?

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

CALAAPORRADESSABOCAMICHELOTTO 0002


IN MEMORIAM:  DIRETORES


Ricardo III [abre a peça de Shakespeare exclamando]- “ O inverno do nosso descontentamento está chegando ao fim sob esse glorioso sol de York e todas as nuvens que ameaçavam a nossa casa estão enterradas no mais profundo dos oceanos. Agora as nossas frontes estão coroadas de palmas gloriosas.”

Esse inverno conseguiu levar de uma só vez, dois personagens de nossa história que mais contribuíram para o estabelecimento, a fixação e provavelmente também o fim, da figura do diretor, nas artes cênicas.
A modernidade teatral nasceu com essa figura do Diretor, espero que não tenham dúvida disso. Aqui o TAP a perpetuou e esses dois, não tenho dúvida, foram os que a levaram mais a sério, ou melhor, ao extremo. A fixação de Cadengue transformando o Seraphin num quase-segundo-TAP foi movida sem dúvida por conta desse fascínio com Waldemar que era um verdadeiro cultivador de diretores. Sem ele teríamos que concordar com a maldita frase de que toda modernidade só chegava a Recife quando estava acabando na Europa.
O resto do Tap foi só poeira se acumulando nos livros da pequenina história da saudade. Nem a avantajada tese de Cadengue conseguiria ressurgir tais cinzas.
Parece-me que é o melhor que posso falar deles. O resto não é com eles. “Suas” peças foram boas ou ruins por causa dos que estavam em cena, não por causa de ensaios. No teatrão – ao contrário do teatro de improviso – há uma marca forte  do diretor. Mas só. Diretores não enfrentam seus públicos a não ser em bravatas. A frase citada, de Pimentel, é uma bravata clássica. Porém quem poderá dizer que Pimentel não enfrentava seu público? A vida dele foi uma corredeira de atuações, além das direções. Como diretor podemos dizer, requiescat, como ator nunca: tinha estirpe de tetro, tinha coragem, tinha culhões teatrais.
O jornalista da terra não tem obrigação, parece, de saber das verdadeiras qualidades de nossos protagonistas. Via de regra se fascinam quando podem dizer de boca cheia que o falecido em questão ascendeu socialmente, tendo participado de algum esquema de politicagem vigente em sua época, porque todas épocas têm os seus esquemas, não? Normalmente elencam essa parte miserável da vida das pessoas- que melhor seria se fossem escondidas ou esquecidas pois provavelmente foi a parte onde mais traíram seu ofício, seus ideais e seus amigos- coisas assim como diretorias, presidências disso ou daquilo, sub-diretorias, chefias, ordem primeira do santo grael, ordem da jarreteira....Ou então enchem seus obituários de banalidades, tipo “Pimentel foi Jesus por 50 anos seguidos”( bastava  ele ser o dono da bola,não?) ou “dirigiu clássicos como Shakespeare e Nelson Rodrigues”.( Que não é definitivamente clássico, por mais que algumas vezes tenha tentado ser grego.)
A morte invernal escolheu juntar esses dois em tão pouco tempo por serem essencialmente diretores.
Por terem contribuído para a direção teatral a tal ponto que a exauriram e nos permitiram hoje de nos desfazer dela. Nos permitiram ver melhor o poder mesquinho que se esconde sob sua máscara histórica. Becket fez isso em dramaturgia.(Katstrophè). Eles o fizeram como ofício.
E isso não é para qualquer um. Mas para obstinados.
Entrevistei Pimentel na minha ex-coluna do Diário de Pernambuco há alguns anos.
Então não vou repetir o que lá escrevi dizendo que a primeira peça interessante que eu vi ao chegar em Recife foi Calígula, no Cine São Luis em 1979. Pimentel dizia que o texto era de Camus, mas e a encenação era dele, fazendo assim eco aos modernos diretores da Europa ou EEUU, não tão aceito por uma sociedade atrasada, bel letrista, que prestigiava os originais e o texto literário em detrimento da cena, no fundo pervertendo o que poderíamos chamar de texto teatral, cuja destinação final é  a cena e apenas a cena nunca sua leitura no conforto da poltrona. Estranho, não? Por isso Pimentel, raivoso com toda razão e inteligente, acrescentava: ‘me aguardem, vou abagunçar tudo!”.
Ou algo assim, que eu também- diferente dele- não tenho obrigação de citar palavras textuais de seu ninguém.
Também não me peçam para recriar a história do teatro pernambucano. Ela sempre me pareceu querer ser séria demais e bastante chata na maioria das vezes, não necessitando, pois, de mais um narrador que tente enfeitá-la, transformando-a em 700 páginas mais tediosas ainda.
Tivemos períodos de modernização [ Waldemar no início]; períodos de medievalização [Projeto Armorial da Ditadura]; períodos de romantização [ O Séraphin que criamos  era um filho amentado no romantismo]. E last not least, períodos de performatização seguidos de período de improvisação e de milhões de  outras estórias além das oficialmente narradas em obituários. E sejam lá quais forem, continuamos por aqui, ervas daninhas. Mas obituários não pensam assim. Pensam grande. Pensam errado.
Juro morro de medo de meu obituário.
Então escreví antecipadamente o que eu quero que digam.
Por favor,
digam que vocês me adoram.
Que vcs lamentam e choram a tal da minha ascensão.
E às pessoas que eu detesto, digam sempre que não presto, meu teatro: um folhetim.
e que eu arruinei o Recife,
que não mereci o tal cachê
que você não pagou para mim.

A MORTE CHEGA DE MANSINHO NO INVERNO

IN MEMORIAN: J. Pimentel


Escrevi uma vez quando Fellini morreu que eu estava começando a achar indecente fazer obituários. Porque esse histórico é irônico em relação à vida. Nos obrigando a falar das coisas que nos deixaram e não dos que nos deixaram. 

Certamente para cada um de nós, dia importante foi o dia que passamos na praia molhando os pés no mar ou em casa com Hermione deitada ao lado vendo TV com o pensamento distante e desatento como humanos. E talvez menos o dia em que fomos aclamados como modernos, legais, maravilhosos ou grandiosos em nossos palcos. 
Cadengue eu conheci e convivi e trabalhei com ele por uns 40 anos, por mais que não se acredite nisso. A preocupação dele com o primo ou com a mãe, sempre me pareceu mais importante do que todas suas peças.
Com Pimentel  eu frequentei os mesmos corredores do CAC- ele em Comunicação e eu em Artes- e convivi com ele forçadamente desde 1978, após ver  seu Calígula. Ninguém conseguiria nunca mais se livrar de Pimentel e nem daquele Calígula. 
Tornou-se figura pública.
Como figura pública e também política num sentido menor, foi Diretor de artes cênicas de Alguma Coisa Supostamente Importante para as Artes em Recife.Tanto ele como outro tanto de amigos ou conhecidos meus foram.  
Mas certamente esses são os tempos mais sombrios da história de cada pessoa de teatro: quando ascende.
Por sorte, desde que cheguei Pimentel ascendia também -dessa vez aos céus em Nova Jerusalém. José conseguia m feito de ser Jesus, tal pai tal filho.
E é só sobre isso que quero me lembrar na sua ascensão de hoje. Pimentel Cristo.
Ao longo de minha vida conheci alguns Cristos. 
Mas 3 especialmente  verdadeiros.
Primeiro, Frederico Stein, que nenhum de vocês conheceram infelizmente. Foi o iniciador das Paixões “com texto” em Floresta, em enormes campos de bater café. Antes de Stein o único texto que se permitia aos Jesusees era o de dizer "Tenho sêde", na cruz. Pois em Minas de meu tempo os centuriões molhavam a esponja em água, sim, porém ardente. E conta a lenda que alguns Cristos quase despencavam das cruz , tanto que exclamaram  "tenho sede"... 
Stein foi meu grande mestre em teatro. Fazia um Cristo teatralmente verdadeiro. Era professor de exegese e re-escreveu a Paixão como exegeta e como descendente de uma longa linhagem de atores holandeses em sua família. Consegui ser seu bobo em Lear, mas não consegui ser Jesus. A vida às vêzes imita a arte,não?

José Pimentel, certamente o Cristo-ator mais perfeito na expressão de dor. Seu Cristo era basicamente um Cristo sofredor. 
Não convivi com ele para saber se levou para a vida além dos cabelos e barba, alguma qualidade de seu Cristo, mas Paulinha me confessou uma vez que era um amigo tão perfeito e tão generoso que até criou um papel para ela participar da Paixão, sem se importar muito com a exegese do texto evangélico.
E por fim, Zoltan, o meu Cristo. Que foi sem dúvida alguma o maior ator que Recife já conheceu. O DIG realizou- por total e absurda inveja em relação a Nova Jerusalém- a encenação “A Paixão no Campus”. Sem o menor apoio do Diretor ou do Reitor ou de Zé-ninguém, como sempre o DIG faz. 
Claro, depois de ter sido o Cristo-rejeitado de Frederico Stein e ter estudado com ele exegese por 6 anos, eu tinha uma forte tendência a um Cristo realmente real. 
Um tanto crítico. 
Um tanto considerado bufão. 
E um tanto falador, como eu mesmo.

Conversei sobre isso com Zoltan que simplesmente decorou as falas do filho de deus do Evangelho de Mateus, o mais primitivo. Em húngaro, porém. Enquanto rolavam as cenas no Hall do Cac , Jesus falava sem parar seus ensinamentos como emitindo ruídos estranhos a todos.Pois pregava em húngaro, claro. Zoltan conseguiu assim ser não só um Cristo da incomunicabilidade humana, como o verdadeiro Cristo.
Ou ainda acham que alguém o entendeu?  

Daí minha homenagem à vida e a esses 4, nesse dia triste que por 40 anos foi considerado e representado como uma vitória por Pimentel: o da morte da personagem.
”Ascender não é tudo, creiam-me ”(João, I ,13)

Esses são os homens e como os conheci.